SESSÃO DE CINEMA
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A TEORIA DE TUDO
Baseado na biografia de Stephen Hawking, o filme mostra como o jovem
astrofísico (Eddie Redmayne) fez descobertas importantes sobre o tempo,
além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide
(Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa quando
tinha apenas 21 anos.
A Teoria de Tudo: Stephen Hawking e seu universo com Jane
Por Parcilene Fernandes
Bacharel em Psicologia. Mestre em Ciência da Computação pela
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Coordenadora e professora
dos cursos de Sistemas de Informação e Ciência da Computação do
CEULP/ULBRA.
“Desde o começo da civilização, as pessoas tentam entender a ordem
fundamental do mundo. Deve haver algo muito especial sobre os limites do
universo. E o que pode ser mais especial do que não haver limites? Não
deve haver limites para o esforço humano. Enquanto houver vida, haverá
esperança.” (Stephen Hawking)
Mesmo sem entender as teorias de
Stephen Hawking, muitos já ouviram falar sobre os conceitos apresentados
em seus livros, que vão desde buracos negros e o início do universo,
até a teoria das cordas. Isso porque Hawking conseguiu a proeza de
colocar o livro de um cientista teórico na lista de best-sellers (Uma
breve história do tempo). Essa façanha só foi possível porque, seguindo o
conselho de seu editor, elaborou um livro sobre alguns dos princípios
da física teórica sem o uso de fórmulas matemáticas nas explicações (ou
melhor, com uma única fórmula: E=mc2). Um livro que deu ao
público em geral a oportunidade de apreciar conceitos complexos sem a
estranha sensação de estar olhando para um enigmático conjunto de
números e símbolos.

Mas quem buscou
encontrar no filme longos relatos sobre as teorias de Stephen,
provavelmente foi surpreendido. Em “A teoria de Tudo” vimos a história
de Stephen e Jane (sua esposa) que, como muitas matérias que se atraem
na natureza, parecem estar em campos opostos. Ele, um estudante de
Física, que só acredita na ciência como forma de entender os mistérios
do universo, ela, estudante de artes e uma cristã devota.
Jane: Você não falou por que não crê em Deus.
Stephen: Um físico não pode deixar que a crença em um criador sobrenatural atrapalhe seus cálculos.
Jane: É um argumento contra físicos, não contra Deus.
O filme foi baseado em um livro publicado por Jane Hawking, Travelling To Infinity: My Life With Stephen,
e roteirizado por Anthony McCarten. Nele, vimos duas pessoas
compartilhando uma vida com desafios complexos. A premissa da história
poderia muito facilmente cair em uma ode piegas à superação humana e ao
amor conjugal, mas graças a atuação impecável do casal principal, ao
roteiro e a bela fotografia, o que presenciamos é um filme mais crível,
logo mais interessante.
Claro, é uma
história real contada em um filme hollywoodiano e isso já muda a
perspectiva de muitos fatos, mas, ainda assim, com o desenrolar dos
acontecimentos podemos ver o ser humano por detrás do gênio ou da pessoa
portadora de uma doença tão devastadora, logo podemos enxergar, além de
tantos aspectos positivos (perseverança, resiliência etc.), uma dose de
egoísmo e orgulho. Aos poucos, vimos também que há uma certa melancolia
crescente em Jane por algo que ela tem a impressão de ter deixado para
trás, talvez um pouco de sua própria vida
Jane e Stephen se conheceram no início
da década de 1960 e foi logo depois disso que os sintomas da doença que
iria mudar a vida de Hawking começaram a aparecer, primeiro em forma de
pequenas dificuldades motoras até o momento de sua queda em Cambridge e
do diagnóstico fatal: a doença do neurônio motor (DNM), ou de Lou
Gehrig, que dava-lhe, no máximo, dois anos de vida (ele estava com 21
anos).
Observação: a denominação atual (e mais específica) da doença de Hawking é Esclerose Lateral Amiotrófica.
A
esclerose lateral amiotrófica (ELA), também conhecida como doença de
Charcot ou doença de Lou Gehring, e pertencente ao grupo das doenças do
neurônio motor, é caracterizada pela progressiva degeneração dos
neurônios motor superior (NMS) e inferior (NMI), geralmente associada ao
envolvimento bulbar e do trato piramidal.Os sinais clínicos da ELA são
evidenciados nos membros inferiores, superiores e, posteriormente, nas
demais regiões do tórax e pescoço. (LIMA & GOMES, 2010)
O que vimos depois disso é a história
de Stephen e Jane como casal, mesmo que todas as predições lógicas
tentassem mostrar que tal história seria impossível na realidade. Eles
se casaram em 1965, acreditando que o amor que sentia um pelo outro
merecia ser vivido, mesmo que brevemente. E o “breve” imaginado pelos
médicos e pela família só teve sentido se pensarmos que talvez todas as
histórias humanas na Terra sejam breves, considerando o tempo e o espaço
que nos cercam.
Tão difícil quanto
explicar as teorias sobre as estrelas que entram em colapso ou a
singularidade é entender como as pessoas se conectam, vivem juntas e
superam dificuldades quase intransponíveis. O desempenho
excepcionalmente crível de Eddie Redmayne transporta-nos através da
trajetória de dor, vitórias e perdas (não somente a muscular) vivida por
Stephen Hawking. Enquanto isso, vimos em Jane, interpretada no tom
certo por Felicity Jones, toda a complexidade que é viver um casamento
em que sua entrega e dedicação têm que ser tão intensa.
“Então Einstein estava errado quando disse que
‘Deus não joga dados’. Considerando o que os buracos negros sugerem,
Deus não só joga dados, Ele às vezes nos confunde jogando-os onde
ninguém os pode ver”. (Hawking)
No início da década de 1970, Hawking não conseguia mais falar, nem se
movia sozinho da cadeira. Seus três filhos, ainda pequenos, mais sua
necessidade de cuidados básicos, exigiam de Jane uma dedicação extrema.
Talvez fosse mais poético se na história o amor superasse todas as
barreiras, mas o amor é interessante justamente porque não nos dá
certezas. É mais provável que entendamos através dele nossa própria
fragilidade e os artifícios que criamos para nos reinventar a cada dia.
Se na teoria clássica, segundo Hawking, “não há como escapar de um
buraco negro” porque as leis são regidas pela teoria da relatividade; na
teoria quântica esse cenário é mudado radicalmente, o que tornaria
possível, por exemplo, “que energia e informação escapassem”. Não havia
como sobreviver, naquela época, com um diagnóstico de esclerose lateral
amiotrófica, ao menos, a medicina até aquele momento não permitia
enxergar além da primeira conclusão, ou seja, o diagnóstico fatal.
Hawking talvez seja a melhor metáfora para a analogia da informação que
escapa do buraco negro. O seu amor pela vida, por Jane e pela ciência
contribuíram para sua sobrevivência, foi o movimento necessário para sua
fuga da morte.

Hawking refutou sua própria tese de
doutorado, ou melhor, ampliou as premissas mudando o alcance de suas
concepções iniciais. Fez isso porque tudo é dinâmico, principalmente, o
conhecimento humano. Seu casamento com Jane também sofreu modificações,
por um tempo viveram uma relação aberta até se separarem na década de
1990. Mas mesmo sem um “viveram felizes para sempre”, a sensação que
fica depois do filme é de termos presenciado uma profunda história de
amor. De um amor que, como as teorias da física, não é estático, nem
totalmente compreensível, mas essencial para mantermos o mínimo de
equilíbrio nessa vida em constante movimento.
A Teoria de Tudo, ou melhor, a explicação do universo através de uma
fórmula matemática geral, ainda não foi encontrada por Hawking. O menino
de caligrafia terrível que nasceu exatamente no dia dos 300 anos da
morte de Galileu e que ocupou a cadeira que antes havia sido ocupada por
Isaac Newton em Cambridge, está com 73 anos e continua, como ele mesmo
costuma dizer, com uma curiosidade infantil pelo universo. Seus filhos
com Jane e sua própria história de vida evidenciam uma de suas
principais teorias, que o universo não tem limites (nem a natureza
humana).
Referência:
LIMA, S. R.; GOMES, K. B. Esclerose lateral amiotrófica e o tratamento com células-tronco. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2010 nov-dez;8(6):531-7.
Felicity Jones, Jane Hawking, Stephen Hawking e Eddie Redmayne na estreia de 'A Teoria de Tudo' em Londres (09/12/2014)